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“Ainda me lembro quando, há 24 anos atrás, os 2 primeiros homens matricularam-se em nosso curso de principiantes. Era o início da nossa Escola”
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Wilma Kövesi
Março de 1998
Wilma Kövesi ( 9/1/1930 – 05/11/2004 ) foi pioneira e de certa forma visionária na abertura, em Julho de 1985, de uma Escola de Cozinha em São Paulo – o Centro de Criatividade.
Percebeu,na época, que haviam em São Paulo muitas pessoas, em fase adulta, que estavam saindo de casa e se dando conta de que não sabiam cozinhar. Mulheres eram o público alvo inicial mas, para surpresa de Wilma, homens já a procuraram nos primeiros anos da Escola. Era Wilma quem ministrava todas as aulas. Foi também inovadora em convidar chefs para cozinhar e ensinar em sua Escola. Claude Troisgros, Emanuel Bassoleil, Mellão, Alex Atala, Charlô, entre muitos, estrearam suas atividades didáticas convidados por Wilma.
Wilma Kövesi escreveu matérias para jornais e revistas, teve 2 livros publicados, participou ativamente das primeiras feiras de gastronomia “ BOA MESA” aonde, ao lado de Josimar Mello, fazia a curadoria e se divertia traduzindo aulas simultaneamente. Fazia com competência e graça. Enfim, Wilma criou um conceito próprio de desmistificar a cozinha em qualquer nível, seja iniciante ou profissional.
O conceito tornou-se a missão e foi o que possibilitou a continuidade de um trabalho tão autêntico e pessoal. A Escola hoje é comandada por Betty Kövesi (filha), ao lado de um time de chefs que atuam ativamente nos cursos regulares e em aulas autorais. Alguns deles trabalharam ao lado de Wilma em total sintonia e cumplicidade, como Carlos Siffert, Carole Crema e Gabriela Martinoli. Joel Ruiz e Marina Hernandes ingressaram na Escola pouco tempo depois. Juntos e ao lado dos funcionários da Escola, formam um time que trabalha com muita harmonia. Essa é a Escola Wilma Kövesi hoje!
WILMA KÖVESI por JOSIMAR MELO
“A professora de culinária e autora de livros, que morreu dia 5 de novembro, foi presença atuante na gastronomia brasileira
Wilma Kövesi costumava falar o que pensava. “Na minha idade, posso me dar este direito de dizer sempre o que penso”, era o que repetia. No caso dela, não era questão de idade: era um pouco questão de temperamento, e um pouco questão de direito adquirido em face do que já tinha realizado ao longo de sua vida.
Wilma não foi só sua escola. Sua paixão pela gastronomia a levou a muitas outras atividades. Escreveu livros, deu consultoria para empresas de alimentos, me ajudou quando iniciei meu evento Boa Mesa em 1995 (e participou sempre desde então), participou do Basilico também desde que lançamos o site em 2000, tanto com uma página própria, o Jornal Wilma Kövesi, quanto ajudando a resolver dúvidas dos internautas na área SOS Gourmet.”
CURRÍCULO DE WILMA KÖVESI
Foi secretária executiva de Caio Alcântara Machado, tendo participado do planejamento e execução das primeiras dez feiras comerciais: Fenit, Salão do Automóvel, UD e Feira da Mecânica Nacional;
Tradutora-intérprete de inglês e francês;
Casada e mãe de três filhos, desligou-se da Alcântara Machado e passou a atuar em projetos especiais, sendo responsável por cursos de culinária ministrados por chefs internacionais em diversas feiras UD;
Foi redatora de culinária do Suplemento Feminino do jornal O Estado de S. Paulo;
Foi responsável pela seção “Doces” da extinta revista Gourmet;
Responsável pela coordenação e redação das receitas do evento gastronômico Boa Mesa;
Reciclagem: em suas viagens regulares ao exterior, Wilma assistia aulas de culinária em escolas de renome e visitava restaurantes de destaque para atualizar-se no desenvolvimento e tendências da gastronomia internacional.
O interesse de Wilma Kövesi pela cozinha teve início aos 10 anos de idade, quando sua mãe – uma excelente dona-de-casa, mas que não gostava de cozinhar – pediu-lhe para bater uma cobertura de suspiro. Wilma contava que ficou tão encantada com a cobertura a ponto de comer uma xícara inteira.
Em sua adolescência, foi aprendendo a cozinhar lendo revistas americanas de receitas e dicas culinárias. Além disso, contava que foi na cozinha, experimentando ideias novas, onde aprendeu a melhor maneira de cozinhar.
Profissionalmente, Wilma Kövesi começou a trabalhar com culinária quase por acaso. Ela era secretária executiva de Caio Alcântara Machado. Para uma das edições da feira UD, Caio teve a ideia de programar uma aula de cozinha com o chef da Air France e, assim, Wilma acabou sendo a tradutora das aulas, além de responsável pela compra do material e ingredientes necessários.
Anos mais tarde, quando Wilma estava com um filho recém-nascido em casa, uma amiga psicóloga (na época freelancer do Suplemento Feminino, do jornal O Estado de S. Paulo) pediu que ela auxiliasse a redigir uma entrevista e uma receita do então chef do Hotel Jaraguá. A partir daí, Wilma foi convidada a ser redatora do Suplemento Feminino.
Em 1979, alugou parte de uma pequena, mas “simpática”, edícula onde montou a primeria escola de cozinha – que não funcionava na residência da professora. E foi lá que ministrou suas primeiras aulas de congelamento: uma coqueluche da época.
Hoje, localizada no nº 224 da Rua Cristiano Viana (Cerqueira César), a Escola Wilma Kövesi de Cozinha oferece cursos direcionados a todos aqueles que de alguma forma se interessam pela cozinha: leigos, iniciantes, gourmets e profissionais.
PILOTOS DE FOGÃO
Artigo escrito por Wilma Kövesi (Março 1998)
Ainda me lembro quando, há 24 anos atrás, os 2 primeiros homens matricularam-se em nosso curso de principiantes. Era o início da nossa Escola, então funcionando em uma pequena sala nos fundos de uma clínica, que tinha — maravilha das maravilhas — estacionamento para 7 carros e uma goiabeira que dava goiabas vermelhas deliciosas. Eram 2 jovens administradores de empresa, que chegavam de gravata e blazer de veludo cotelê para fritar bifes e fazer panquecas. Fizeram o curso de principiantes inteiro e, depois, cederam lugar às também jovens esposas.
Depois surgiram aqueles que, à guisa de “acompanhar” suas mulheres, queriam mesmo é xeretar as receitas. Estes logo diziam, querendo me impressionar, que eram ótimos cozinheiros, “derrubavam” (assim mesmo) a prateleira de temperos e faziam camarões (ingredientes chiquérrimos na época) flambados com creme de leite.
Em seguida, declaravam-se donos de facas caríssimas, gabando-se delas como se isso equivalesse a um certificado de excelência na cozinha. Paulatinamente, passamos a ser procurados por um número crescente de homens, pelas mais diversas razões — poucas destas, entretanto, relacionadas à necessidade de cozinhar por uma questão de sobrevivência.
Ao mesmo tempo, começaram a sumir, também, os “derrubadores” de tempero e surgiram jovens maridos, com ou sem as esposas. Um deles precisava aprender a cozinhar porque seria pai de gêmeos e não queria sobrecarregar a mulher com o preparo as refeições. Pouco tempo depois, recebi um comovido e enternecedor telefonema da esposa contando-me que, ainda em repouso, recebera na bandeja muito bem arrumada, além de salada e panquecas deliciosas, um vasinho de flores.
Efeito flambado
Mais tarde, já nas aulas dadas pelos chefs, os homens acorriam para aprender molhos para massas; com o advento das importações, as aulas de risoto atraíram enormemente o sexo masculino, o que ocorre até hoje. A pizza também faz um enorme sucesso! Um amigo meu ganhou de sua conformada esposa uma plaquinha com nome de pizzaria para auxiliá-lo a receber os amigos para deliciosas “pizzadas” em sua casa de praia.
A cozinha para principiantes continua a interessar, e muito, os homens, pela excelência do seu sabor artesanal e pela necessidade quase premente de uma alimentação saborosa, sem excessos de gordura e de sabores fortes. Saladas compostas atraem os solteiros, por serem fáceis de preparar e pelo lugar que ocupam em uma alimentação mais leve, perfeita para quem chega tarde do trabalho e com fome.
Aves não são definitivamente o forte masculino, o que é uma pena. O mesmo ocorre com o coelho, de carne magra, deliciosa e tão pouco preparada em casa (tanto por homens quanto por mulheres).
Suflês e cozinha light não os encantam tanto, e as aulas de sobremesas ainda não conquistaram tal público, que, no máximo, contenta-se com uma fruta flambada. Os homens adoram o efeito fácil — e cafona — do flambado, principalmente quando feito à mesa, com réchaud e uma reluzente frigideira de aço inox.
Carnes vigorosas
São, também, além de churrasqueiros (ainda não topei com mulher que faça churrasco ou troque receita de carnes vermelhas), grandes apreciadores de carnes vigorosas, como cabrito e cordeiro — embora o leitão, talvez pela dificuldade em ser adquirido, não seja sequer mencionado.
Peixes, só aqueles enormes, alguns pescados por eles mesmos e que fazem o desespero das mulheres, que desconhecem receitas de peixes de água doce e não conseguem acomodá-los nos congeladores.
Há grandes cozinheiros de fim de semana, uns muito pretensiosos, outros não, de acordo com seu conhecimento. Como em tudo, os que mais se vangloriam são os que menos sabem!
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